Oratória forense e mensalão

8 de agosto de 2012

Confesso que venho acompanhando com algum interesse os últimos acontecimentos relativamente à ação penal n° 470, que tramita no Supremo Tribunal Federal, não tanto pela questão penal ou política, mas pela expectativa de ver grandes oradores.

 

Tenho que, no âmbito penal, diferentemente do cível, a eloquência dos oradores é fundamental, sobretudo no júri, mas não só nele. Em tese, é possível ser um grande advogado civilista sendo gago ou mudo, mas parece impossível que o mesmo possa ocorrer com um advogado criminal.

 

Creio mesmo que, no campo penal, falar bem é mais importante do que escrever bem, embora reconheça que um grande orador deva dominar ambas as formas de comunicação.

 

Devo dizer, porém, que fiquei um tanto decepcionado com a performance dos oradores até aqui, por várias razões.

 

Primeiro, porque parte dos tribunos não têm boa dicção e costumam “comer” letras ou pronunciar palavras por vezes de modo incompreensível ou mal pronunciadas (v.g., “rôbo”, “o MP não demostrô”, “a tistimunha”). Não é incomum, ainda, a omissão dos “rs”, os “ms”. São também frequentes erros de concordância, o uso incorreto de preposição, entre outros.

 

Segundo, porque alguns fazem citações desnecessárias ou incrivelmente banais. Chamou-me a atenção, por exemplo, um certo advogado que, depois de criar grande expectativa de que faria uma citação das mais relevantes, exclamou: “o processo não tem capa”!

 

Terceiro, porque muitos se limitam a ler e reler os memoriais que já constam dos autos. E raramente um tribuno consegue, por meio de simples leitura, despertar a atenção (por muito tempo) do juiz ou tribunal.

 

Quarto, porque me parece um tanto constrangedor a insistência com que citam os ministros que vão julgar o caso, exagerando, não raro, seus votos, em evidente bajulação.

 

Creio que já é tempo de tomarmos a sério o falar em público; e é indiscutível a atual carência de grandes tribunos, isto é, oradores que saibam usar o seu tempo com o máximo proveito, que conheçam bem a língua portuguesa, que sejam competentes ao valorar a prova e interpretar o direito, que demonstrem alguma cultura geral e sejam espontâneos, honestos e persuasivos.

 

Não surpreende assim, nesse contexto, que, com alguma frequência, juízes finjam que prestam atenção, que se dediquem a uma outra coisa ou mesmo cochilem durante a peroração.

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9 Comentários

  1. Olá Professor! Minha expectativa também foi grande para ver os supostos grandes oradores e a decepção vem sendo imensa. Forte Abraço¡

  2. De igual maneira ao autor desta constatação, eu também acompanhei as sustentações orais dos famosos defensores na tribuna da mais alta corte de justiça. Confesso que, a princípio fiquei-me autoquestionando porque da desatenção dos senhores ministros julgadores. Exceto o decano Celso de Mello, quem não dormia mostrava feições nitidamente perdida num horizonte paralelo e de divagações. O desrespeito a todos era indisfarçável.

    Da TV este expetador, igualmente, a muitos constatadores desta frustrante realidade sentia a falta de Rui Barbosa, Josaphat Marinho, Luis Roberto Barroso, Evandro Lins e Silva, Hebert Reis e Tilson Santana, estes detentores das melhores eloquência e técnica do bom direito. Alguns destes mencionados não mais no plano da terra, mas, com sua retórica perpetuada viva e perenemente.
    Ocorre que apenas a técnica e o conhecimento jurídicos não são de todo suficiente. Tem que haver vida, coração e domínio fundamental de nossa língua mãe. Esta demonstrada cristalina, clarividente e incisiva.

    Um abraço e vida longa, atento PQ.

    Rogério Lima.

  3. Dr. Rogério, gostaria muito de vê-l e ouví-lo no Tribunal do Júri. Suass crônicas e editoriais na Rádio Diamantina, diariamente, são prova de que há vida inteligente na terra do Rosário do Orobó.
    Um fraternal abraço
    Herber, seu admirador

  4. Concordo com o senhor; o saber falar é indispensável neste momento, e o que se tem percebido dos discursos em questão, são advogados despreparados, com dizeres inúteis (…). Isto é a mais pura verdade!

  5. O dom da oratória é para poucos. É raro encontrarmos alguém especialista na arte de falar. Depois de pensar muito, vem-me à mente dois nomes de jurista que atuam por aqui: Edilson Mougenot Bonfim (genial) e Luis Roberto Barroso (impecável).

  6. uma necessidade no âmbito jurídico, esssencialmente na advocacia, perfeito professor!!! cada artigo uma lição, que me ilumine no júri de amanhã! já compartilhei em minha página no face, rs!

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