Ceticismo absoluto: necessidade de arte e ilusão.
Todo conhecimento surge por meio de separação, delimitação e abreviação; não há conhecimento absoluto de uma totalidade;
O imenso consenso dos homens acerca das coisas comprova a uniformidade de seu aparato perceptivo;
As abstrações são metonímias, isto é, permutações de causa e efeito. Mas todo conceito é uma metonímia, sendo que, nos conceitos, o conhecer termina por se antecipar. A “verdade” converte-se num poder, assim que a liberamos como abstração;
Por “verdadeiro” compreende-se, antes de mais nada, aquilo que usualmente consiste na metáfora habitual – portanto, somente uma ilusão que se tornou familiar por meio do uso freqüente e que já não é mais sentida como ilusão: metáfora esquecida, isto é, uma metáfora da qual se esqueceu que é uma metáfora;
Metáfora significa tratar como igual algo que, num dado ponto, foi reconhecido como semelhante;
De onde vem, no inteiro universo, o phatos da verdade? Ele não aspira à verdade, mas à crença, à confiança em algo;
Não há um impulso ao conhecimento e à verdade, mas tão-somente um impulso à crença na verdade;
O que é uma palavra? A reprodução de um estímulo nervoso em sons;
O ser sensível precisa da ilusão para viver;
Lutar por uma verdade é totalmente distinto de lutar pela verdade;
O homem é um animal extremamente patético e toma suas propriedades por algo de suma importância, como se os eixos do universo girassem nele;
O conhecer é tão-somente um operar com as metáforas prediletas, e, a ser assim, nada mais que uma imitação do imitar sensível;
Em rigor, todo conhecer possui apenas a forma da tautologia e é vazio. Todo conhecimento por nós promovido consiste numa identificação do não idêntico, do semelhante, quer dizer, trata-se de algo essencialmente ilógico.
O que é, pois, a verdade? Um exército móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, numa palavra, uma soma de relações humanas que foram realçadas poética e retoricamente, transpostas e adornadas, e que, após uma longa utilização, parecem a um povo consolidadas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões das quais se esqueceu que elas assim o são, metáforas que se tornaram desgastadas e sem força sensível, moedas que perderam seu troquel e agora são levadas em conta apenas como metal, e não como moedas.
Extraídas do livro Sobre a Verdade e Mentira. S.Paulo: Hedra, 2008.
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O que eu não compreendo é o fato de os cristãos serem totalmente avessos ao que Nietzsche diz. Creio que haja uma certa ignorância por nossa parte, sendo que o que pensamos é de forma semelhante, senão igual a forma de Nietzsche. Agimos como tal, contudo, não admitimos.
Aprende-se no catolicismo que devemos confiar e crer em Deus, independente de ele estar ou nãoem nosso meio. Fazemos isso para não cairmos ao acaso, para que haja uma esperança; a abstração é necessária para que saibamos que jamais existirá algo ou alguém que se tenha o total conhecimento sobre ele, exemplo disso é Deus.
Devemos aceitar que, de acordo com Nietzsche, lutamos por uma verdade, que não pode ser provada, nem procurada; se o contrário fosse, talvez não discordaríamos dele.
Gostaria de sabe de onde foi retirada a citacao ‘o ser sensivel precisa de ilusao para viver”.
Perdoem pela falta de acentuacao, mas meu teclado desconfigurou.
Obrigada,
Maria Fernanda
Conforme consta do final, todas as citações foram retiradas do mesmo livro:” sobre a verdade a mentira em sentido extra-moral”.
I thought finding this would be so arduous but it’s a bezree!